Desenvolvimento de um novo veículo oral como estratégia para melhorar a adesão à terapêutica em pediatria

Produção de Medicamentos em Farmácia Hospitalar


Instituição

Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Autores:

Margarida Pereira, Filipa Cosme Silva, Helena Margarida Ribeiro, António José Almeida, Joana Marto

O que foi feito ?:

Este projeto teve como objetivo o desenvolvimento e otimização de um veículo oral, sob a forma de um hidrogel, para auxiliar na administração de formas farmacêuticas sólidas a doentes pediátricos e melhorar a adesão à terapêutica.

Porque foi feito ?:

A palatabilidade e a capacidade de deglutição são dois dos principais fatores que contribuem para uma baixa adesão à terapêutica na população pediátrica. Vários estudos demonstram a baixa tolerância que as crianças têm a sabores desagradáveis, a adesão à medicação prescrita nestes doentes varia entre 11 a 93%, resultando num valor médio de 58% que é por norma mais baixo do que o da população adulta (1). Apesar dos diversos desafios que a administração de medicamentos a doentes pediátricos apresenta, continuam a existir poucas formulações adequadas às características desta população.
Este facto muitas vezes leva a que cuidadores e profissionais de saúde tenham de optar por outras alternativas. Na União Europeia, cerca de 45 a 60% dos medicamentos são administrados a crianças em condições off-label (2). A coadministração com produtos alimentares tornou-se uma prática comum para mascarar o sabor desagradável de alguns medicamentos e melhorar o processo de deglutição de comprimidos e cápsulas. No entanto, o impacto que estas práticas poderão ter nos outcomes terapêuticos é desconhecido. De modo a diminuir a manipulação desnecessária de medicamentos, garantindo assim uma maior segurança e eficácia, torna-se imperativo conseguir melhorar a aceitabilidade destes por parte das crianças.

Referências bibliográficas:
1. Martir J, Flanagan T, Mann J, Fotaki N. Recommended strategies for the oral administration of paediatric medicines with food and drinks in the context of their biopharmaceutical properties : a review. 2017;69:384–97.
2. Ivanovska V, Rademaker CMA, van Dijk L, Mantel-Teeuwisse AK. Pediatric Drug Formulations: A Review of Challenges and Progress. Pediatrics [Internet]. 2014;134(2):361–72. Available from: http://pediatrics.aappublications.org/cgi/doi/10.1542/peds.2013-3225

Como foi feito?:

Foram formulados 15 hidrogeles sem açúcar para administração oral, recorrendo à utilização de diversos polímeros e acompanhados de um controlo farmacotécnico de acordo com os requisitos para preparações orais (Ph. Eur. 9), usando como referência o produto comercial Gloup®. No entanto, o objetivo principal era obter um produto mais adequado que o Gloup®, uma vez que este contém sacarose na sua composição (desadequado para utilização crónica).
Após otimização e avaliação das características organoléticas e reológicas, realizaram-se testes de viscosidade, oscilatório e adesividade (Reómetro Kinexus Lab+). Após análise, foram selecionadas duas formulações finais contendo carboximetilcelulose sódica (Na-CMC) e goma xantana (XG), e submetidas ao controlo microbiológico (Ph. Eur. 9), a ensaios de compatibilidade com substâncias ativas (foram testados 13 fármacos, onde se inclui, papeis medicamentosos, comprimidos e matéria-prima) e de simulação do comportamento reológico no trato gastrointestinal. Aos hidrogeles foram ainda adicionados corantes e essências, com base num inquérito a 157 crianças, entre os 2 e 12 anos, para garantir assim uma maior adesão ao veículo. Foi ainda estudada a estabilidade físico-química e microbiológica durante 6 meses (ICHQ1A(R2)).

O que se concluiu?:

Foi possível obter hidrogeles translúcidos com aspeto homogéneo e sabor adocicado, estáveis, com uma palatabilidade e valor de pH adequado à administração oral (entre 5 e 8). Os resultados do inquérito revelaram que o sabor de morango foi o mais selecionado (27,4%), e a cor preferida foi o vermelho (29,3%), permitindo assim adaptar a seleção de corantes e essências a adicionar ao veículo final. Os veículos orais desenvolvidos apresentam características farmacotécnicas adequadas, designadamente, viscosidade, mucoadesividade e qualidade microbiológica. A caracterização reológica prevê uma fácil deglutição do veículo e pouco impacto do pH gástrico na estrutura do hidrogel, podendo ser administrado com qualquer uma das 13 substâncias ativas testadas.

O que fazer no futuro?:

O desenvolvimento de um veículo oral com sabor e textura agradáveis permite colmatar as dificuldades na administração oral de formas farmacêuticas sólidas a doentes pediátricos. Este hidrogel é fácil de produzir e de garantir a sua qualidade nos serviços farmacêuticos hospitalares, podendo ser implementado com poucos recursos, representando assim uma mais-valia económica para o hospital e contribuindo para uma melhor adesão à terapêutica em pediatria.
Os veículos compostos por carboximetilcelulose sódica provaram ser estáveis durante 3 meses, enquanto os hidrogeles contendo goma xantana mantiveram a sua estabilidade durante 6 meses. Apesar de uma avaliação in vivo ser essencial neste caso, pensa-se que estas formulações podem ser uma opção viável para melhorar a adesão à terapêutica em crianças.

Palavras chave :

Adesão à terapêutica
Veículo oral
Hidrogel
palatabilidade
Pediatria
 
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