Instituição
Centro Hospitalar Universitário de Santo AntónioAutores:
António Daniel Mendes, Anabela Caldeira, Bárbara Santos, Patrocínia RochaO que foi feito ?:
Avaliou-se a qualidade do fracionamento de comprimidos com ranhura, efetuado pelos Serviços Farmacêuticos Hospitalares (SFH), de acordo com as monografias e ensaios da Farmacopeia Europeia 11 (Ph. Eur.) aplicáveis.
Desenvolveu-se uma árvore de decisão, para abordar os resultados não conformes, de acordo com alternativas disponíveis no mercado e os recursos disponíveis nos SFH.
Porque foi feito ?:
O fracionamento de comprimidos com ranhura é uma prática executada frequentemente pelos SFH, para obter formas farmacêuticas com dosagens não comercializadas pela indústria farmacêutica. Esta prática assume relevância em Pediatria, Geriatria, nos insuficientes hepáticos ou renais, mas também em prescrições “off-label” e no ajuste do regime posológico à evolução do processo patológico do doente.
De acordo com o descrito na Ph. Eur., “os comprimidos podem conter uma ou várias ranhuras e podem ser divididos em frações, quer para facilitar a toma do medicamento, quer para satisfazer a posologia. No segundo caso, a divisibilidade dos comprimidos deve ser avaliada… .Para assegurar que o paciente receberá de facto a dose prevista, a eficácia da ranhura deve ser avaliada … através da uniformidade de massa das frações do comprimido.”
No RCM de vários medicamentos, comercializados sob a forma de comprimidos com ranhura, são referidas posologias cujas doses representam uma fração da dosagem. É comum os RCM’s, apesar da forma farmacêutica apresentar ranhura, serem omissos relativamente à finalidade da referida ranhura.
Com o objetivo de confirmar a eficácia da ranhura foram analisadas frações de 14 medicamentos, de acordo com o ensaio de divisibilidade definido na Ph. Eur.. Foram definidos procedimentos para abordar os resultados não conformes, garantindo a disponibilização de formas farmacêuticas com qualidade e segurança.
Como foi feito?:
Com o objetivo de controlar a qualidade do fracionamento, foram selecionados para análise 14 medicamentos que se encontram comercializados sob a forma de comprimidos com ranhura e cuja dosagem habitualmente solicitada aos Serviços Farmacêuticos corresponde a uma fração da dosagem disponível no mercado.
Os medicamentos selecionados foram submetidos ao ensaio de divisibilidade de comprimidos, inscrito na Monografia Geral dos Comprimidos, da Ph. Eur.. Em paralelo também se analisaram os dados de acordo com o ensaio de uniformidade de massa (2.9.5) da Ph. Eur..
O que se concluiu?:
Após a realização do ensaio de divisibilidade de comprimidos, da Farmacopeia Europeia, verificou-se que 6 dos 14 medicamentos ensaiados (aproximadamente 43%) não cumpriam com a especificação definida.
Os resultados não conformes permitiram efetuar uma abordagem critica a cada uma das situações, implementando soluções adequadas, através do desenvolvimento de uma árvore de decisão que tem em conta as alternativas disponíveis no mercado e os recursos disponíveis nos Serviços Farmacêuticos.
Os 6 resultados não conformes foram solucionados da seguinte forma:
– Alteração da marca do medicamento sujeito a fracionamento;
– Preparação de uma suspensão oral manipulada;
– Preparação de cápsulas manipuladas.
A análise dos dados, de acordo com o ensaio de uniformidade de massa (2.9.5) da Farmacopeia Europeia, com percentagens de desvio mais restritas, permitiu verificar que apenas 2 dos 14 medicamentos ensaiados cumpriram com esta especificação.
O que fazer no futuro?:
A realização de ensaios de controlo de qualidade do fracionamento, de acordo com as especificações da Ph. Eur., é aplicável a todas as instituições que efetuam o fracionamento de comprimidos com ranhura e permite garantir a qualidade, segurança e eficácia das formas farmacêuticas fracionadas.
Os ensaios são de fácil execução, sendo apenas necessária uma balança analítica e um software de tratamento estatístico de dados.
No futuro pretendemos implementar uma análise exaustiva de todos os medicamentos fracionados, qualificando todos os lotes previamente à sua utilização.
Atendendo a que o ensaio de divisibilidade da Ph.Eur. aceita um desvio máximo de 15%, podemos estar a colocar em causa a segurança da utilização do medicamento, apesar da atividade de fracionamento cumprir com a especificação do ensaio aplicável. Tal facto assume especial importância em ambiente hospitalar, pois ao contrário do que acontece em ambulatório, as frações são utilizadas de forma independente. Com o objetivo de aumentar a qualidade e segurança desta atividade, pretendemos estudar a possibilidade de implementar apenas a especificação do ensaio de uniformidade de massa (2.9.5), cujo limite máximo nunca excede os 10%, na qualificação de lotes a fracionar.
Palavras chave :
Controlo da qualidadeFarmacotecnia
Fracionamento de Comprimidos